A imagem mostra um cachorro branco, que está sobre um pano também branco. Ele está apático e tem expressão de desaprovação. À sua frente está uma tigela, na cor prata, cheia de ração com coloração marrom. Ao fundo há uma parede branca.
29.10.2021

Como é a alimentação dos pets em tratamento contra o câncer?

O cuidado com a alimentação é fundamental na saúde de cães e gatos, e quando falamos de um animalzinho com câncer, isso se torna um ponto de extrema importância.

O manejo nutricional em pets com caquexia

A caquexia, caracterizada pela redução involuntária da ingestão de alimentos e aumento das taxas metabólicas, levando à perda de peso e perda de massa muscular, é a síndrome paraneoplásica mais comum entre os pacientes com câncer. O manejo nutricional torna-se de fundamental no tratamento do paciente oncológico, em especial aqueles portadores de caquexia. Os objetivos são prevenir ou corrigir deficiências nutricionais, minimizar os efeitos adversos do tratamento, auxiliar na recuperação da condição corporal do paciente e melhorar a qualidade de vida.

Perda de apetite em animais com câncer

Um fator a considerar diante de um paciente oncológico que recusa alimentação é a localização do tumor, que por si só pode causar a dificuldade na alimentação ou falta de apetite. Tumores em boca ou pescoço podem causar dor durante a apreensão do alimento, mastigação e deglutição, o que leva à recusa do alimento. Tumores nasais podem prejudicar o olfato, sentido extremamente importante para cães e gatos. Tumores em sistema digestivo ou cavidade abdominal podem causar desconforto e náusea, também levando à anorexia. Tratar a dor e a náusea muitas vezes já faz com que o paciente aceite melhor a alimentação. Além disso, mudanças simples na textura e temperatura do alimento podem torná-lo mais atrativo e de mais fácil consumo para esses pacientes.

 Além das alterações causadas pelo tumor, efeitos colaterais do tratamento podem gerar a perda do apetite, normalmente de forma temporária. Pacientes em quimioterapia podem apresentar náusea e êmese, e com isso o paciente recusa o alimento. Em pós cirúrgico, a dor também pode ser motivo de anorexia. Nesse caso, o primeiro passo é tratar esse desconforto. Fornecer alimentos saborosos e de boa digestibilidade também contribuem para que o paciente volte a se alimentar mais rápido.

Pacientes que continuam se alimentando de forma voluntária têm um manejo alimentar mais simples. Entretanto, aqueles com perda de apetite ou anorexia precisam de mais atenção neste aspecto e por vezes precisam receber os nutrientes necessários por outras vias. O uso de sondas para suporte alimentar podem ser alternativas em algumas situações, como para melhorar a condição de um paciente com dificuldade de se alimentar enquanto se planeja uma cirurgia, especialmente no caso de tumores orais ou nasais, ou no pós-cirúrgico para garantir a nutrição e até mesmo facilitar a medicação no caso de cirurgias mais extensas. O paciente poderá inclusive permanecer em casa, sendo alimentado pela sonda. Nesse caso, o médico veterinário irá instruir o tutor sobre como utilizar a sonda, quantidade e frequência da alimentação.

Como realizar a alimentação de pacientes oncológicos?

Em casos específicos pode-se utilizar alimentação parenteral (diretamente na veia). Porém o suporte nutricional via oral (seja pelo consumo voluntário ou mesmo por sonda) é preferível sempre que possível, por ser mais próximo do fisiológico, seguro, econômico, nutricionalmente completo e garantir o fornecimento de nutrientes para manter a integridade da mucosa intestinal.

A boa alimentação contribui com o tratamento dos animais

As células tumorais utilizam preferencialmente glicose para o seu metabolismo, e em grande quantidade. Sendo assim, a restrição desse nutriente pode contribuir para o tratamento do paciente. A elevação do teor proteico na alimentação do paciente tem por objetivo aumentar o fornecimento de aminoácidos, com o intuito de compensar a maior demanda por parte do paciente em função do crescimento tumoral, na tentativa de evitar a perda de massa muscular. A gordura possui boa digestibilidade e teor energético, além de conferir palatabilidade à dieta.  Essas características ajudam a fornecer alimentos com elevado teor energético em um menor volume de alimento. Suplementos de ácidos graxos das séries ômega-3 são os principais nutracêuticos a serem considerados para animais com neoplasia, podendo ajudar a minimizar a perda de massa muscular associadas com a caquexia.

Por outro lado, também é necessário evitar o excesso de peso. Entre os tumores mais comuns em cães estão o linfoma e o mastocitoma. Em ambos é bastante comum que seja utilizado corticoide como parte do protocolo de tratamento. Entre os feitos adversos dessas medicações estão o aumento do apetite e, por isso, esses pacientes muitas vezes começam a pedir mais comida, mesmo aqueles que não tinham esse hábito. Também temos aqueles pacientes que já tem um bom apetite normalmente e mantém esse apetite durante o tratamento. E claro, um animalzinho doente, pedindo comida, torna-se muito difícil ao tutor negar. E o resultado é um aumento de peso que pode ser bastante prejudicial, principalmente se considerarmos que geralmente são paciente idosos e boa parte deles com comorbidades que podem ser agravadas pelo sobrepeso. A utilização de petiscos pouco calóricos e saudáveis (como alguns vegetais) podem contribuir para saciar o animal e deixar o tutor mais tranquilo!

Uma alimentação adequada é parte importante do tratamento oncológico. Para os pacientes que aceitam bem, uma ração com as características adequadas e de boa qualidade, pode ser um bom caminho. Em muitos casos, a alimentação natural pode ter um excelente resultado. Lembrando que, especialmente no caso daqueles tutores dispostos a seguir com a alimentação natural, torna-se indispensável o acompanhamento do veterinário especialista em nutrição, que poderá prescrever uma dieta personalizada e adequada a todas as necessidades e particularidades do paciente. Da mesma forma, qualquer suplementação nutricional só deve ser estabelecida pelo médico veterinário, conforme a necessidade do paciente.